“A dualidade, ou diferença (bheda), não se pode aplicar ao Senhor Supremo, porque Ele está em plena unidade com a Consciência”.
Essa afirmação aparentemente difícil de entender é muito simples, no final das contas.
Consciência é o estado em que vive um ser consciente, ou seja o leitor (não estou falando de nenhuma outra pessoa). A consciência é sempre “uma Realidade” e não pode ser limitada por nada, pois está além do espaço e do tempo.
Por exemplo, se o leitor disser: “eu sou diferente daquela pessoa ali”, isso é falso. Por quê? Porque sua afirmação é baseada em formas (corpos físicos), localização no espaço, idade das formas, ideias etc. Assim, o leitor estaria dizendo que outra pessoa é diferente dele porque seu corpo não é como o corpo do leitor, ou porque a mente da outra pessoa não é como a mente do leitor, etc, etc, etc. Mas o leitor estaria se esquecendo de algo vital: “se ele pôde perceber todas essas diferenças entre ele e a outra pessoa, portanto tudo o que é percebido (ou seja, tudo que existe) é um com a Consciência”. De quem é essa Consciência? Ela pertence àquele que está consciente, é claro: o leitor (de novo)!
Em suma, ele está “ciente” de todas essas diferenças e, portanto elas são uma com a Consciência (o estado em que o leitor vive o dia todo e a noite toda). E se o leitor disser que todas essas diferenças são “distintas” da Consciência, então como ele conseguiu estar ciente delas? Porque essas diferenças não poderiam ter sido percebidas por ele, pois seriam inexistentes, ou seja: ele não estaria ciente de todas elas.
Em resumo, há sempre “uma” Consciência, que percebe todas as diferenças.
Apesar do fato de a dualidade existir em relação a tudo na esfera do espaço e do tempo (objetos, corpos, mentes, etc), como a Consciência está além do espaço e do tempo, a dualidade nunca pode afetá-la.
A dualidade, ou diferença, nunca pode ser provada, no caso da Consciência, porque há insuficiência de meios (anupapatti). Em outras palavras, o Senhor Supremo (VOCÊ, leitor), sendo uno com a Consciência, é sempre Eka, ou Um, Solitário, e nunca dois ou mais.
Outro exemplo simples: olhe para os objetos ao seu redor neste momento. Eles são todos diferentes uns dos outros, não são? Todas essas diferenças aparecem no espaço e no tempo, mas não na Consciência. A consciência é o estado de um ser consciente, ou seja, você. Embora você veja objetos diferentes no espaço/tempo e a dualidade prevaleça nesse nível, a Consciência é sempre a mesma, ou seja, não está experimentando a dualidade. Não há uma Consciência para este objeto e outra Consciência para outro objeto, e assim por diante. NÃO. Ela é apenas “uma” para todos eles.
Se for levantada a objeção sobre a existência de uma Consciência por pessoa, a resposta seria: “existe apenas UMA Consciência”. E de quem é ela? Sua! A Consciência dos outros, se delineada em pensamento, está sempre existindo em sua própria Consciência. Você vive em sua própria Consciência e não há outra maneira de viver para você. Tente viver em outra Consciência e verá que isso é impossível.
Se você entender completamente esse ensinamento, alcançará a liberação final em um instante. A liberação final NÃO tem a ver com cantar mantra-s o tempo todo, adorar alguma divindade dia e noite, clamar por Deus, etc. NÃO, tem a ver com receber a liberação final. NÃO, ela tem a ver com receber a Graça do Senhor Supremo e ser muito inteligente, ou seja ter um intelecto que seja bom em raciocinar adequadamente do ponto de vista espiritual.
A Graça do Senhor Supremo está chovendo sobre você por meio desta nota explicativa, tenha certeza disso. O fator restante é o desenvolvimento de sua própria inteligência. Se você conseguir desenvolvê-la, ou se já a tiver, a liberação final está bem próxima, pois “é muito óbvio que Você é o Senhor Supremo”.
A entoação de mantras, a adoração de divindades e práticas semelhantes são apenas destruidoras de tempo em minha própria experiência. Por quê? Porque a Consciência é Auto-existente. Não é preciso praticar nada para realmente compreendê-la. É apenas a própria tolice que leva uma pessoa a pensar que a Consciência pode ser alcançada pela prática. A Consciência não pode ser praticada, leitor, porque Ela é sua natureza essencial. Não precisamos praticar ser o que já somos. É tolice fazer isso, sob todos os pontos de vista. Imagine-se dizendo o tempo todo. “Eu sou eu, eu sou eu, eu sou eu, eu sou eu”. Absolutamente tolo, não é mesmo? As pessoas que praticam para obter uma compreensão do Self têm essa mesma aparência aos meus olhos: “eu sou a Consciência, eu sou a Consciência, eu sou a Consciência, eu sou a Consciência”... sim, eu sabia disso. Pare o seu papagaio interior, por favor. Obrigado!
Guru Gabriel Pradīpaka em O Paramārthasāra de Abhinavagupta